quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O curso de Jornalismo não morrerá

Darlan Santos

Jornalista e coordenador do curso de Comunicação Social da Unipac/Lafaiete
O que será das faculdades de Jornalismo a partir de agora, com a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão? Esta é uma das principais perguntas que pairam no ar, após a decisão do Supremo Tribunal Federal, que derrubou, por oito votos a um, a exigência do curso superior.

Antes de responder a esta questão, cabe o repúdio à decisão do STF, e, ainda mais, à avaliação de alguns dos ministros, como a de Gilmar Mendes, que comparou o ofício de jornalista ao de cozinheiro. Segundo ele, “um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estamos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado, mediante diploma de curso superior nessa área”. Resta saber que “pratos indigestos” serão servidos pela imprensa daqui prá frente, já que a “refeição” que nós, jornalistas, preparamos, envolve apuração de denúncias de crimes, corrupção, manutenção de um programa televisivo, ou de um jornal, que chega a milhões de casas, diariamente.

Ao tomarem a decisão, os ministros também argumentaram que a formação de jornalista não inclui ensinamentos técnico-científicos. Pois bem; pergunte para um aluno do curso, ou, melhor ainda, pergunte para um professor, o que é passado aos estudantes durante os quatro anos de faculdade. Aliás, cuidado, advogados e outros profissionais das ciências humanas e sociais! Vocês também foram citados nessa discussão. Não se assustem se, amanhã ou depois, o STF resolver extinguir a obrigatoriedade de seu diploma, sob alegação de que “qualquer um pode aprender em casa a mobilizar as leis brasileiras”.

Os ministros também levantaram a questão da liberdade de expressão, que estaria em risco, por conta da exigência do diploma. Ora, o espaço na imprensa, reservado à opinião pública, sempre existiu, em qualquer veículo de comunicação. Basta acessar as sessões de cartas, artigos, denúncias etc. Sem falar que, mesmo com a iniciativa do Supremo, os donos dos veículos de comunicação continuarão filtrando o que será ou não publicado.

Importante lembrar também que o STF reduziu a profissão de jornalista a uma única tarefa e habilidade: escrever bem. Mas Jornalismo é muito mais que isso: Ser jornalista não é só fazer lead ou pirâmide invertida. É saber apurar; saber técnicas de entrevista, decupagem e edição. É saber técnicas de reportagem; elaborar uma pauta criteriosa; fazer um roteiro de telejornal ou radiojornal; conduzir a editoração de uma página, de acordo com critérios como uso de infográficos, fotos, gráficos e afins. É elaborar um release, um plano de mídia, um projeto de webtv ou webrádio; conhecer a semiologia de uma foto; saber o que significa um off, uma retranca, hiperlink, marcador em um texto on line, espelho, fait divers e várias outras denominações e técnicas; É ter conhecimento sobre Escola de Frankfurt, teoria hipodérmica, nariz de cera, ter lido Benjamim, Peirce, Cremilda Medina, Felipe Pena, Barthes, Clóvis Rossi, José Marques de Melo e muitos outros. Enfim, só quem tem a formação acadêmica (e cada área do saber tem a sua), tem a noção do que representa sua profissão.

Por fim, é importante ressaltar que o assunto ainda não se esgotou. Felizmente, ainda há pessoas sensatas neste país. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, foi um dos que já se posicionaram em favor da classe. Ele defendeu a criação de um Projeto de Lei no Congresso, exigindo a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão.

Agora sim, respondendo a pergunta inicial – o que será das faculdades de Jornalismo? – afirmo que continuarão a existir, mesmo que o absurdo da não obrigatoriedade do diploma se mantenha. Isto porque a faculdade continua sendo o local privilegiado para a formação de um profissional que pretenda atuar em jornal, rádio, TV, Internet, assessoria de imprensa ou em qualquer outro dos inúmeros espaços que necessitam da figura do jornalista. O próprio ministro Hélio Costa – que não possui o diploma – reconhece isso. Ele atua no meio jornalístico, com projeção nacional e internacional. Mas trata-se de uma exceção. E quanto aos milhares de jovens, que sonham em ingressar na carreira? Como obter a formação? A resposta é só uma: através de um curso de Jornalismo – onde, certamente, aprenderão que ser jornalista vai muito além do “arroz com feijão” citado pelo ministro do STF.

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